Kikia Matcho de Filinto de Barros

Há algum tempo que trabalho com duas jovens guineenses e tenho aprendido muito sobre um país que desconhecia. São jovens adultas com percursos interessantes de vida, resultantes da região onde nasceram. Pedi-lhes algo para ler que me ajudasse a compreender melhor o país. Este é o segundo livro que leio sobre o pós independência da Guiné Bissau.

Filinto de Barros escreve, como primeira obra literária, sobre a morte de N Dingui, um ex-combatente, que viveu segundo as suas convicções. Deixa dois sobrinhos: António Benaf, recém-licenciado e que voltou à Guiné e Joana, a enfermeira que abandonou o país para ir para Portugal em busca de um sonho de melhores condições, apesar de o seu tio ser contra.

Quando morre, N Dingui surge como Kikia Matcho, zangado com tudo e com todos e obrigando os sobrinhos a procurar com videntes e outros Djambacus, como apaziguar a alma do tio. Para além disso, é nos mostrado as várias tradições para enterrar e apaziguar os mortos bem como o mal-estar geral de uma população desalentada através da apresentação de várias personagens companheiras de N Dingui.

António surge como um jovem ambicioso que imagina que, como recém-licenciado e de novo na sua pátria, tem direito a subir rapidamente na vida. Joana, por sua vez, encontra-se em Portugal e cada vez mais distante da realização de um sonho. Tem em Pedro, o seu filho nascido no meio de uma promiscuidade solitária, a motivação para continuar, mesmo sabendo que não será como imaginara ao partir.
É um livro de desalento, de mágoas e tristezas. De sonhos desfeitos, encontramos quase todas as personagens tristes com a sua vida. Papai é a memória que permanece viva ao longo do livro e que procura desvendar o mistério de Kikia Matcho.
Alguém tem mais alguma sugestão para ler algum autor guineense?

Filinto de Barros nasceu em Bissau a 28 de Dezembro de 1942. Fez estudos secundários no Colégio Nuno Álvares, em Tomar, e estudos superiores na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra e no Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa. Depois da independência da Guiné-Bissau foi embaixador em Lisboa, entre 1978 e 1981. Na Guiné-Bissau exerceu vários cargos políticos, entre os quais ministro da Informação e Cultura (1981-1983), ministro dos Recursos Naturais e Indústria (1984-1992) e ministro das Finanças (1992-1994). Kikia Matcho, sua primeira obra literária, é, nas palavras do autor, um pequeno exercício de ficção. Nem história, nem sociologia, nem etnologia, nem política, tão-somente uma abordagem que se pretende dinâmica e existencial do processo de síntese sociocultural de um Povo.

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