Literatura Infanto-Juvenil – opinião de Helena Bracieira – Guest Post

Esta semana temos uma publicação maravilhosa, escrita pela Helena Bracieira, bloguer do As Horas que me preenchem de Prazer, cujo blogue sobre livros e música é um dos que visito e muito aprecio. Se quiserem seguir, podem fazê-lo aqui ou aqui ou nos dois sítios!

A literatura infanto-juvenil costuma ser, para o comum dos leitores, o primeiro contacto com a leitura. Entre páginas de letras e ilustrações, encontra-se o segredo para cativar ou afastar um leitor e escolher a história certa para partilhar com os mais novos não é de todo fácil. Falarei, por isso, de dois livros que, tendo-me marcado, julgo serem boas apostas.

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Apesar de ter ultrapassado essa faixa etária, é um gosto retornar a leituras que, tendo como alvo um público mais novo, não deixam de ser tão agradáveis quanto uma maresia que refresca as agruras da vida. A Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner é disso mesmo uma evidência.

Esta pequena menina vinda das profundezas do mar aprendeu com a amizade do seu amigo terrestre o que era o companheirismo, a felicidade e, a tão nossa conhecida, saudade, num universo marítimo colorido e luminoso, onde nem por isso se deixam de encontrar obstáculos.

É o encontro entre dois mundos diferentes onde a descoberta e a aceitação tomam lugar. Será assim um exemplo de tolerância perante a diferença e a novidade.

“- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.

– Isso é por causa da saudade – disse o rapaz.

– Mas o que é a saudade? – perguntou a Menina do Mar.

– A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora”.

Num registo completamente diferente e para uma faixa etária mais desenvolvida, falo-vos de um diário. Este é o diário de uma rapariga que, como tantas outras, teve um na sua juventude e nele registou as suas reflexões e dilemas. Porém, o quotidiano de Anne foi tudo menos normal: confinada a um anexo com a sua família, viu-se em plena adolescência obrigada a abdicar da sua escola, dos seus amigos, da sua realidade, devido à metódica perseguição nazi aos judeus.

Constituindo um documento histórico de valor inestimável, o Diário de Anne Frank é um testemunho sobre a implantação de um regime totalitário e castrador, que evidencia os seus efeitos sobre a população, na perspectiva de uma adolescente que verá a sua vida alterada para sempre.

Perdi a conta a opiniões negativas que derivam da falta de empatia por parte do leitor com o(s) protagonista(s) que não se sentiu cativado. Calculo que seja, por isso mais fácil, para um leitor adolescente colocar-se no papel de Anne e perceber que muita da sua inconstância, entre caprichos, desesperos e esperanças, deriva daquilo que o próprio leitor está a vivenciar no seu crescimento. Além disso, esta leitura pode servir como uma primeira introdução a um tema terrível: a perversidade dos nossos semelhantes.

Portanto ali estávamos nós, o Papá, a Mamã e eu, caminhando sob a chuva, cada um de nós com uma mala da escola e um saco de compras, cheios até à borda com uma grande variedade de artigos. As pessoas que se dirigiam ao trabalho àquelas horas olhavam-nos com compaixão; percebia-se pelos seus rostos que tinham pena de não nos poderem oferecer algum tipo de transporte; a conspícua estrela amarela falava por si própria.”

Entre tantas obras de valor poderia ter escolhido quaisquer outras, como O Principezinho, As Aventuras de Tom Sawyer ou Alice no País das Maravilhas, mas se houve histórias lidas na altura mais do que certa e que nunca poderei esquecer, serão certamente estas duas: a da Menina do Mar e a de Anne Frank.

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