A Célula Adormecida de Nuno Nepomuceno

Adormecida

Ao invés de começar a minha viagem pelas obras de Nuno Nepomuceno pela Célula Adormecida, comecei pelos Pecados Santos (que chegou a ter passatempo personalizado) e fiquei fascinada. Foram noites sem dormir, para terminar o livro, e valeu a pena.

Não é a melhor foto de todas, mas foi aqui, na Feira do Livro que conheci o autor em 2018. Depois disso, já tive o prazer de estar noutros lançamentos, nomeadamente na Morte do Papa e numa apresentação especial do livro. Não liguem à qualidade da fotografia, já é velhinha!

Nuno Nepomuceno é um jovem autor (é mais novo do que eu) e tem já uma interessante coleção de livros editados. A coleção dedicada a Afonso Catalão tem início na Célula Adormecida. Apesar de se poderem ler os outros livros da coleção, de forma aleatória, a verdade é que, subitamente, fez todo o sentido começar por aqui.

Nepomuceno leva-nos numa viagem por uma Europa assustada pelos atentados aleatórios, pelas conspirações, pela xenofobia. Através de Catalão, um herói diferente dos demais, vamos descobrindo um Portugal assustado com um atentado terrorista e o potencial suicídio do novo primeiro-ministro. Um jovem muçulmano explode-se num autocarro com uma criança ao colo e, assim, está dado o mote para não pararmos de ler.

Por outro lado, conhecemos igualmente Diana Santos Silva, uma impetuosa jornalista, que ainda irá dar muito que falar nesta e nas próximas obras. Pessoalmente, considero que esta personagem vem dar uma cor muito especial a esta obra. A sua personalidade é muito diferente da de Catalão e isso enriquece a história.

Inicialmente, cada um segue a sua linha de investigação, com Catalão a querer perceber porque um aluno dele faria tal barbaridade e Diana procurando descobrir se a morte do primeiro-ministro seria um suicídio ou um homicídio muito bem planeado. Todos estes acontecimentos antecedem uma Cimeira com os líderes mundiais, a ter lugar em Lisboa, em muito pouco tempo.

Estas duas linhas de investigação irão cruzar-se e levar-nos a perceber que, por detrás está uma enorme conspiração por parte de um grupo, do qual fazem parte alguns dos mais ricos milionários do mundo. Será que está ligada à cimeira? O que irá acontecer?

Pelo caminho, conhecemos refugiados sírios e a comunidade islâmica, através da família de Sami, Sarita e Ahmad, e do Imã Yusef e da sua esposa. É através destas personagens que percebemos a dureza da xenofobia e de como o ódio pode surgir facilmente, depois de um sofrimento atroz.

Isto leva-nos a refletir sobre como os jovens e até menos jovens se poderão sentir tentados a se juntarem a grupos islâmicos radicais. É uma parte duríssima, em que nos questionamos, mais ainda nos tempos conturbados em que vivemos, se a nossa acção ou inacção contribui, de alguma forma, para esta realidade.

Como mulher, a história de Sarita, certamente o elo mais fraco e que, involuntariamente, despoleta certas circunstâncias importantes na obra, faz-me questionar, que tipo de jovens estão-se a formar.

Nepomuceno escreve de forma brilhante e conduz-nos, com frequência, pelo passado de Catalão, levando-nos a descobrir um passado obscuro, que em muito explica a sua forma de estar no presente.

Para quem gosta de thrillers inteligentes e com acção, este é um bom livro para colocarem na estante, depois de o lerem. Com perseguições na Turquia, histórias ocultas e ocultadas por serviços secretos portugueses e ingleses, momentos de terror e momentos de iluminação, esta é uma obra que merece ser descoberta e lida ou relida.

Esta nova edição inclui capítulos inéditos, um final alternativo e um conto especial. Se a comprarem na Wook, tem ainda 10% de desconto imediato e portes gratuitos. Aproveitem para seguir o Podcast sobre Afonso Catalão, nos Ficheiros Catalão!

Sinopse:

Um professor universitário vê-se envolvido num ato terrorista de dimensão mundial. As autoridades intervêm e interrogam-no. Mas enquanto as primeiras respostas começam a surgir, uma dúvida persiste: por que motivo continua ele a mentir?

Lisboa desperta para um cenário aterrador. Um bombista suicida barrica-se no interior de um autocarro e o novo primeiro-ministro é encontrado morto. Ao mesmo tempo, uma jornalista tão bela como deter- minada recebe um ultimato de um ente querido — é sua responsabilidade descobrir toda a verdade.

Os Serviços Secretos portugueses reúnem provas e concluem que uma célula terrorista adormecida está pronta a ressurgir. Com um evento internacional a aproximar-se, pedem ajuda a Afonso Catalão, um reputado especialista em Ciência Política e Estudos Orientais, que já viveu no Médio Oriente. Mas é aí que acabam por deparar com um poço de mistérios e meias-verdades ainda mais negras do que o novo ataque que está prestes a acontecer.

Passado durante os 30 dias do Ramadão, abordando temas atuais como a xenofobia e o racismo, A Célula Adormecida transporta-nos numa viagem deslumbrante por locais como Istambul, ou o interior da Mesquita Central de Lisboa. Inovador entre o género dos thrillers religiosos, este é não só um livro de leitura compulsiva e voraz, como também uma incursão temerária aos segredos mais recônditos da vida privada de um homem.

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