As Coisas que Perdemos no Fogo de Mariana Enriquez – Opinião

Tive o prazer de conhecer Mariana Enriquez num Meet & Greet organizado pela Quetzal, durante a Feira do Livro de Lisboa. Não conhecia a autora mas fiquei bastante curiosa em ler o livro, após a conversa em que várias bloggers puderam fazer perguntas e interagir livremente. MarianaHenriques

Da nossa conversa retirei muito sumo. Mariana é uma jornalista e escritora com um olhar aguçado, não apenas crítico. Tem um olhar especial que não julga mas obriga o leitor e, neste caso, as ouvintes a pensar e a tirar conclusões por si. A Argentina não é um país fácil, já o sabia. É um país bonito mas cheio de desigualdades sociais. As crises têm sido cíclicas e fiquei com a ideia que a esperança que as coisas funcionem e melhorem não é igual à lusitana. Talvez porque tenham tido mais crises, que ainda se lembrem de terem de ir para a fila do pão ou passariam fome.

As coisas que perdemos no fogo não é um romance, nem está ligado à história. São contos,  na tradição pura de short-stories, com finais inesperados. Contos que falam de histórias de mulheres, contos de horror, terror, thrillers. Cada conto obriga a uma reflexão, no meu ponto de vista, e não são fáceis de digerir. Gosto muito de ler e há livros que se derretem no cérebro, dão-nos prazer  e acabou. Este não é assim. Depois de digerir um conto, há que dar tempo ao tempo e deixar o cérebro organizar as ideias, questionar o porquê.

Admito que nem todos leêm como eu, nem têm a relação canibalesca que tenho com os livros. Cada livro é para ser degustado no momento certo, no tempo certo e na idade certa. Este chegou na hora certa para mim. 12 contos que continuam a ecoar em mim, apesar de ter terminado este livro há 3 semanas. Preferidos não tenho mas os que me continuam a perseguir em sonhos são “O rapaz sujo”, “A casa de Adela” (tão Edgar Allan Poe) e “As coisas que perdemos no fogo” mas há mais, muito mais. “Verde Encarnado Alaranjado”, “O Pátio do Vizinho” (que me lembrou um episódio da série Twilight Zone meets Senhor dos Anéis) ou “Teia de Aranha”.

Se já queria ir à Argentina antes, fiquei ainda com mais curiosidade… Quem sabe um dia! Boas leituras!
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A sua escrita tem sido comparada à de um Poe do século XXI, à de Roberto Bolaño e à de Cortázar. Com estes partilha temas e, sobretudo, universos inquietantes, sombrios, em que o leitor perde rapidamente o pé e é arrastado para regiões malévolas, incontroláveis (da mente humana, do dia-a-dia) que o vão assombrar, insidiosamente, durante muito tempo. Certo é que Mariana Enríquez, que prepara já o seu próximo romance, cruza magistralmente a grande tradição latino-americana com uma voz muito própria, a sua: e que é feroz, visceral, feminista, política e humorística.

 
 

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