Roda Gigante & Woody Allen

A minha vida dava um filme… só não sei o género

Quem pode afirmar nunca se ter sentido desempenhar o papel de Jessica Fletcher (Crime disse Ela) ao lançar-se numa investigação de algo suspeito; não ter perguntado “O que faria MacGyver nesta situação” quando confrontado com a necessidade de uma gadget; não ter desejado ter o KIT de David Hasselhoff enquanto se encontrava parado na interminável fila de trânsito; nunca ter comparado o seu pequeno explorador com o pequeno Indy; nunca ter levantado a mão e proferido as palavras “Estas não são as bolachas que andas à procura”, apanhados com a lata aberta ao seu colo; …

A Roda Gigante, é um longo melodrama representativo de tudo o que poderia acontecer a qualquer um de nós ao longo de uma vida: amor à primeira vista, traições, amores de verão, ciúmes, relações intergeracionais, pais divorciados, filhos de primeiras núpcias, instabilidade emocional, gângsters, empregos precários, pirómanos, casa de horrores convertida em lar, uma praia, um parque de diversões, … qualquer um destes temas dava um filme. Não fosse este o resultado da caneta e realização de Woody Allen, apimentado com uns pozinhos do humor hitchcockiano, personagens dignas de um episódio Twilight Zone, sob a lente primorosa de Vittorio Storaro (Exorcista – O Princípio, 2004; O Último Imperador, 1987; A Mulher, 1985; Apocalypse Now, 1979; O Último Tango em Paris, 1972) este filme retrata a condição humana numa perspetiva intemporal.

 

Com as soberbas representações de Kate Winslet (Titanic celebra esta semana 20 anos), James Belushi (Bradley Mitchum da continuação de Twin Peaks) e Justin Timberlake (no seu melhor papel de sempre) e Juno Temple (Os Três Mosqueteiros, 2011; Jack & Diane, 2012; Lovelace, 2013; Maléfica 2014), o parque de diversões em Coney Island e a nostálgica Nova Iorque dos anos adolescentes de Allan Stewart Königsberg (não pensavam que o homem sempre se chamou Woody Allen), a Roda Gigante é um dos filmes a “ler” e redescobrir por mais do que uma vez.

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