Considero-me uma Igualitarista, no sentido social e familiar, ou seja, em que ambos os pais têm direitos e deveres iguais na educação e acompanhamento dos seus filhos. Fechada a porta da dúvida sobre ser mãe ou pai a tempo inteiro, vamos falar em específico das mães.
Sim, porque um pai que fica em casa é muito vanguardista e ama realmente a sua cria, enquanto uma mãe fica em casa e não faz nada ou não faz mais do que a sua obrigação ou está a dar uma facada na luta feminista.
Confinamento, Covid e escola
Em primeiro lugar, com o confinamento, ficou claro que uma mãe que fica em casa faz, claramente, algo mais que coisa nenhuma. 24 horas sobre 24 horas com uma criança ou um bebé não é fácil, especialmente se não quisermos que as crianças fiquem como os órfãos romenos.
Não se trata de manter uma casa limpa ou de ter os filhos impecáveis… Muitas mães chegam à hora do almoço sem terem conseguido lavar os dentes ou tomar banho. Trata-se, muitas vezes de dar o aconchego necessário nos primeiros anos de vida. Isto tudo, sem descurar a importância do estímulo das crianças e a falta de estímulo das mães. Ficamos a saber tudo sobre as últimas músicas do Panda, mas não nos lembramos da última vez que fomos a um concerto.
Para além disso, neste momento, tenho receio de levar uma bebé para a creche. Serei só eu?
Para que raio tiraste um curso?
Depois, temos a questão do percurso académico, porque andámos tantos anos a estudar. Para já, porque tal foi possível. Nunca se pôs a questão de não tirar um curso superior. Se isso faz de mim melhor mãe, só o fará no sentido de eu colocar a escola como uma fase importante na vida dos meus filhos e incentivá-los a fazer o mesmo. No entanto, o curso que tirei pode ajudar-me a criar os meus filhos e dar-me as ferramentas para, mais tarde, poder voltar ao mundo do trabalho.
És uma privilegiada, não és?
Chegamos então à questão do privilégio. É realmente um privilégio poder ficar com os filhos. Do ponto de vista económico, poderá ou não fazer sentido. No nosso caso, fazia e continua a fazer. Uma família tem três filhos, um na creche, um no JI e outro no primeiro ciclo, imaginemos com um, quatro e oito anos. Entre creche, ATL, almoços e transportes entre casa e estas atividades, facilmente se gastam 500€. Se a isto juntarmos os transportes, as refeições fora (que já podem ser substituídas por marmitas, mas nem sempre se tem tempo com três filhos pequenos) e a roupa de trabalho (que é diferente da de mãe a tempo inteiro) facilmente se chega aos 650€.
Claro que uma professora com um mestrado e vários anos de experiência poderia encontrar um emprego que pagasse mais do que isso. Só que nem sempre é fácil! Fazer mais de 900€ significa muitas vezes só ver os filhos à hora do jantar, descontar recibos verdes e estar a tomar conta dos filhos dos outros. Isto quando conseguimos emprego próximo e não temos de estar a 400km dos filhos.
No nosso caso, o pai também é professor. Como funcionário público, não temos direito a grandes apoios sociais, por isso é tudo muito bem organizado para poder ter o privilégio de ver os meus filhos crescer. Quanto à reforma, depois vemos isso!
Para já vou continuar a apreciar esta viagem pela maternidade a tempo inteiro, que mais parece uma montanha russa mágica. Tanto estamos no topo do mundo, recheadas de beijinhos e abraço, como a cair desenfreadamente num monte de roupa suja que não seca por causa do tempo.