Café Amargo – Opinião

Café Amargo Simonetta Agnello Hornby

Simonetta Agnello Hornby escreve maravilhosamente bem e com um estilo muito próprio. Não conhecia a autora e fiquei agradavelmente surpreendida com a sua escrita. Café Amargo, editado pelo Clube do Autor, é um livro a não perder.

A forma como a história de Maria se funde com a História da Itália está muito equilibrada, como se a última fosse um pano de fundo que serve para alterar os acontecimentos na sua vida e na dos que a rodeiam.

Começamos com uma Maria pueril, que bebe café amargo como uma espécie de punição, por parte das irmãs do seu noivo Pietro mas que mostra ser uma mulher muito além das expetativas.

Apesar de muito jovem, Maria tem uma curiosidade natural que mantém ao longo da vida, uma preocupação com os que a rodeiam e uma vontade de ir mais além do que aquilo que esperam dela.

Ao longo das 360 páginas vemos Maria evoluir e apesar de deixar de ser ingénua, não perde a sua essência. É uma personagem cativante e que nos obriga a ler cada página com vontade de perceber o que se irá passar.

A seu lado, mesmo que à distância, temos Giosué, o seu melhor amigo, confidente e amante, cuja história paralela e entrecruzada, enriquece e cativa o leitor. Eles os dois são o ponto fulcral desta obra.

No entanto, outros personagens são igualmente interessantes e inspiradores como os pais de Maria, representantes de uma esquerda que tenta sobreviver a uma ditadura; os sogros, tão diferentes entre si mas personagens comoventes em separado. Apesar de todo o passado do sogro, ele foi responsável pelo crescimento de Maria.

Pietro é o representante de um novo-riquismo que fica arruinado pela sua própria falta de objectivos, Não deixa de ser engraçado que, apesar de tudo, continuamos a gostar dele.

De facto, as personagens construídas por Simonetta estão tão bem delineadas que são apenas pessoas, algumas melhores, outras piores, com defeitos e qualidades e que as torna tão humanas.

Agora, em relação ao contexto histórico, por deformação profissional e porque o Pai nasceu e cresceu na Alemanha, temos por hábito ler muito sobre a II Guerra Mundial e que esperamos que não seja esquecida pelas gerações vindouras. A questão é que nunca tínhamos visto a história pelos olhos italianos, mais ainda pelos olhos de uma Itália empobrecida e foi muito importante observar pelos olhos de outra nação.

Agora, um aparte, foi a primeira vez que no comboio, me pediram para fotografar a capa para poderem mais tarde procurar o livro. Foi muito bom!
Café Amargo Simonetta Agnello Hornby
 

Este livro foi gentilmente oferecido pelo Clube do Autor, a quem agradecemos!

Qual a vossa opinião?