Já conhecia o trabalho do CERVAS pois tivemos um encontro com um falcão no nosso alpendre, há cerca de 10 anos. Chamamos o SEPNA que o resgatou e o levou para o CERVAS. Na altura de o tornar a libertar, chamaram-nos para nos podermos despedir. É realmente notável o trabalho de recuperação e proteção do meio ambiente, desenvolvido ali, com o apoio de várias entidades. Vejam no site e sigam-nos no facebook.
CERVAS – 2006-2019
O Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens (CERVAS) encontra-se em Gouveia e é uma estrutura do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) / Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) que foi criada em 2004, tendo iniciado a sua actividade durante o ano de 2006. Desde 2009 que a sua gestão é assegurada pela Associação ALDEIA através de uma parceria com o ICNF e a ANA – Aeroportos de Portugal, o principal patrocinador do centro, no âmbito
da iniciativa Business & Biodiversity.
Uma das principais linhas de trabalho do centro é a recuperação de animais selvagens feridos e/ou debilitados que são entregues por entidades como o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da Guarda Nacional Republicana (GNR) ou as áreas protegidas, mas também nalguns casos pelas próprias pessoas que encontram os animais. Desde 2006 ingressaram 5524 animais, sendo que 4038 (73%) estavam vivos quando chegaram ao centro e 1486 já eram cadáveres.
As aves são o grupo mais representado, com 4560 indivíduos, o que representa 82,5% do total. Destas, a maior parte pertence à Ordem Falconiformes (aves de rapina diurnas) sendo de destacar a águia-de-asa-redonda (Buteo buteo), o milhafre-preto (Milvus migrans) ou o grifo (Gyps fulvus), à Ordem Strigiformes (aves de rapina nocturnas), com destaque para a coruja-do-mato (Strix aluco), o mocho-galego (Athene noctua) e a coruja-das-torres (Tyto alba).
Tendo em conta a elevada casuística destes grupos de aves o centro foi-se especializando neles mas a versatilidade é necessária visto que entraram também muitos indivíduos de outros grupos de aves, sendo de referir os Passeriformes, como por exemplo pintassilgos (Carduelis carduelis), Ciconiiformes (cegonhas-brancas (Ciconia ciconia) e garças), e também Apodiformes (andorinhão-preto (Apus apus) e andorinhão-pálido (Apus
pallidus)), que representam desafios totalmente diferentes ao nível do maneio, alimentação e instalações necessárias para a sua recuperação.
As principais causas de ingresso de animais vivos foram queda do ninho e
captura/cativeiro ilegal, sendo de referir que no total estas duas causas representaram quase 50% do total de ingressos de animais vivos. O trauma, debilidade, atropelamento, electrocussão, colisão e abate a tiro foram outras das causas mais comuns. No que respeita à origem geográfica dos animais que ingressam no CERVAS, naturalmente, verifica-se que a maioria é proveniente do distrito da Guarda, seguindo-se Coimbra, Viseu, Aveiro e Leiria.
Devoluções à Natureza
O principal objectivo do CERVAS e sem dúvida o momento mais gratificante de todo o processo de recuperação é a devolução à Natureza dos animais recuperados. Desde o início da actividade do centro foi possível libertar 2456 animais, o que representa 61% dos animais que ingressaram vivos.
Sempre que possível são envolvidas as pessoas que estiveram relacionadas com o processo de recolha de cada animal bem como as entidades que colaboraram no seu transporte e entrega. Com o objectivo de aumentar o impacto ao nível da divulgação e promoção da fauna selvagem e da educação ambiental das populações o CERVAS tem tentado aproveitar as acções de devolução à Natureza para chegar também aos mais diversos sectores da sociedade e no total, 56565 pessoas tiveram a oportunidade
de participar nestes momentos.
Tem sido feito um esforço para mostrar o trabalho do CERVAS à população, e para tal têm-se realizado diversos tipos de iniciativas, desde acções em escolas (com 9628 crianças), participação em eventos (junto de 26207 pessoas) até recepção de visitantes nos espaços que o CERVAS gere (10434 visitantes), que para além da área visitável do próprio centro também inclui a Casa da Torre, em Gouveia, dinamizado em parceria com o Município local. Em todas as diversas acções realizadas estiveram directamente envolvidas 102843 pessoas de várias regiões do país. Em paralelo com estas acções têm sido usadas outras ferramentas de divulgação na Internet, nomeadamente o sítio da Associação ALDEIA, o blogue do CERVAS , a página do centro no Facebook e o blogue STRI dedicado exclusivamente às rapinas nocturnas.
Parcerias e Apoios
O modelo de gestão actual do CERVAS tem permitido a criação de diversas parcerias que têm contribuído para a melhoria contínua do trabalho desenvolvido e para o alargamento das áreas de trabalho. Desde logo a parceria mais importante é a que é mantida com a ANA e ICNF, que para além de permitir o funcionamento do CERVAS, em colaboração com o Parque Natural da Serra da Estrela, também permite à ALDEIA gerir outro centro no Algarve, o RIAS , em colaboração com o Parque Natural da Ria Formosa, o que no seu conjunto representa um importante contributo para o funcionamento da Rede Nacional de Centros de Recuperação para a Fauna (RNCRF), tanto ao nível da área geográfica abrangida pela actividade de ambos os centros, como pelo número de animais que neles ingressam, cerca de 2500 anualmente.
Como complemento do importante patrocínio da ANA têm-se estabelecido diversas parcerias com empresas que têm contribuído com equipamento, material e/ou apoio financeiro ao trabalho do centro, sendo de referir a REN, a Quinta da Espinhosa, a Living Place – Animação Turística, Chão do
Rio – Turismo de Aldeia, Casa Cerro da Correia / Casa da Sicó, entre outras.
As autarquias também têm sido parceiros importantes, com um destaque especial para a Câmara Municipal de Gouveia, mas também as de Fornos de Algodres, Seia, Celorico da Beira e Manteigas ao nível da dinamização de diversas actividades relacionadas com a Biodiversidade da Serra da Estrela.
As universidades têm sido entidades parceiras muito importantes e com as quais se têm dinamizado diversos estágios curriculares, mestrados e colaborações em teses de doutoramento principalmente nas áreas da Medicina Veterinária e Biologia. A principal parceria tem sido mantida com o Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, com trabalhos na área Ornitologia, mas também com outras universidades (Univ. Trás-
os-Montes e Alto Douro – UTAD; Univ. Porto / ICBAS; Univ. de Lisboa / Fac. de Ciências e de Medicina Veterinária; Escola Universitária Vasco da Gama) o que tem permitido a realização de diversos trabalhos científicos, por exemplo, nas áreas da toxicologia (monitorização de metais pesados em aves de rapina diurnas e aves aquáticas), genética (genética populacional de carnívoros selvagens) ou microbiologia (resistências de bactérias a antibióticos em animais selvagens).
Como apoiar o CERVAS
Qualquer pessoa pode apoiar o trabalho do CERVAS através do apadrinhamento de animais em recuperação, mas também através da aquisição de produtos ), angariação de materiais ou apoio à organização de eventos e campanhas que permitam a angariação de apoios para o centro. As empresas também têm um papel importante, podendo apadrinhar animais de forma institucional ou tornando-se patrocinadoras do CERVAS, à semelhança da ANA ou da REN, entre outras. Até as escolas podem contribuir, contactando o centro para dinamizar acções e apoiando a recuperação de animais. Todos podem fazer parte do trabalho do CERVAS!
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