Cinzento

O meu maior receio é de ficar cinzenta. Não estou a referir-me a grisalha, gostaria de ficar grisalha. Isso significava que daqui a uns anos ainda andaria por cá e continuava a acompanhar os meus pequenos (que nessa altura já seriam todos maiores do que eu.
Cinzenta, da cor das cidades impessoais, sinónimo de “já não quero saber”, torna a vida na cidade ainda mais escura. Não quero dizer com isto que quero jantar com os meus vizinhos ou partilhar episódios sobre a vida. Quero saber o seu nome e perguntar como vai? Gosto de dizer bom dia e espero que os meus filhotes me acompanhem. Gosto de saber que os vizinhos existem e são muito prestáveis em relação ao meu correio e eu retribuo. Fico-lhes agradecida por isso.
Gosto de sorrir para estranhos e olhar as pessoas nos olhos. Falta humanidade por aí e não se julgue que falta apenas na cidade. Será que um sorriso cura alguma coisa? Provavelmente não mas diz: Tu não estás sozinho. Eu vejo-te. Tu não és invisível.
Ás vezes, vislumbro no espelho uma pessoa cinzenta e assusto-me. Não sou assim nem vou ficar assim. Não confundam uma pessoa cinzenta com uma pessoa triste ou desiludida ou de coração partido. Isso são estados de alma. Uma pessoa cinzenta já nem a tristeza sente, é apenas mais um tijolo de uma cidade cinzenta onde as pessoas se confundem com o que as rodeia, uma espécie de mimetismo social.
Por vezes sorriem-me de volta… e sabe tão bem!

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