Luz Indecisa de José Mário Silva – Opinião

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Adoro poesia mas, se calhar como muitos, tenho sempre receio de pegar num livro de poemas. A poesia pode parecer uma leitura fácil e rápida e não o nego, mas, de facto, é muito mais profundo do que o que parece. É como se deixasse uma aura na alma do leitor que se espalha ao nos deslocarmos pelo resto da nossa vida.

Claro que há autores que nos tocam mais que outros, ou pelas circunstâncias ou pela qualidade, até pela idade em que os lemos e para o público a que se destina. A poesia começa a acompanhar-nos em criança, nas simples mas maravilhosas rimas, continua na adolescência nas músicas que ouvimos ou nos poetas trágicos com que sonhamos e depois, na idade adulta, parece que, por vezes, perdemos a magia, a capacidade de sonhar com a poesia.

Ouvi José Mário Silva há pouco tempo, numa atividade da Biblioteca Fernando Piteira na Amadora e fiquei curiosa em ler algo dele. Recomendaram-me Luz Indecisa e assim foi. Não resisti e trouxe para casa comigo.
O mal da poesia é que, pessoalmente, tem de ser lido alto na minha cabeça. Fazer isto no comboio não é fácil mas, nem assim, perdeu o encanto.
O livro está dividido em partes: anos 80; geografia humana; néon,negrume. Com cerca de 40 poemas, lê-se muito bem e, em momentos, conseguimos viajar nas palavras do autor. Prometo sorrisos escondidos e descarados ao ler estes poemas e também um ar embasbacado a tentar visualizar alguns dos poemas… Eu sou a leitora que está ali a rir-se e depois que franze as sobrancelhas.
Um dos que gostei (entre vários) foi Bilhete de Identidade que hoje será mais difícil ser interpretado pelos nossos jovens, cujo BI já não se assemelha a estes velhos bilhetes de identidade.

bilhete de identidade

observo a caligrafia azul

do meu nome – paisagem

imutável como o caminho

que aprendemos na infância

e somos incapazes de esquecer.

Vista daqui, a impressão

digital é um labirinto.

64 páginas de poemas sobre épocas, cidades, sentimentos e emoções.

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