Opiniões há muitas e esta é a minha – da violência doméstica ao Homo Misoginus

Que há muitos Homo Misóginos por aí, não é novidade. Que, no século XXI, ocupem cargos judiciais (que não irei nomear para não me juntar ao incrível rol de futuros portugueses processados por o terem feito com mais ou menos humor

Que há muitos Homo Misoginus por aí, não é novidade. Que, no século XXI, ocupem cargos judiciais (que não irei nomear para não me juntar ao incrível rol de futuros portugueses processados por o terem feito com mais ou menos humor) é que é estranho.

Há também mulheres que pertencem à classe de Homo Misoginus, em que consideram que a opinião de um homem é mais válida ou que as mulheres se puseram a jeito… Parece que há uma linha muito ténue entre o querer e o não querer. Eu diria que as vítimas de violência doméstica não queriam ser vítimas… Algumas não falaram porque tinham esperança que as coisas mudassem ou porque tinham crianças ou simplesmente porque precisavam de dinheiro e não viam nenhuma saída a não ser ficar debaixo daquele tecto ao invés de nenhum.

As vítimas de violência doméstica não são todas iguais e os abusadores também não. No entanto, essa linha ténue desaparece e toda a sociedade é chamada a intervir. Quando ouvimos pessoas de poder, que deveriam ser as primeiras na linha da protecção das vítimas, a desvalorizar os pedidos de ajuda com ilações retiradas de manuais do séc. XVIII, fico preocupada.

Será que todos os polícias, juízes, pessoal hospitalar deveriam ter uma cadeira sobre violência doméstica no seu processo de formação? Gastamos tanto dinheiro com bancos que passam a vida a cometer erros… e não há dinheiro para proteger vítimas com prazo limitado? É que muitas já foram ameaçadas e, mesmo assim, nada foi feito.

Há uma linha muito ténue entre o amor e o ódio, segundo dizem… Porém, a célebre frase: eles são assim mas, no fundo, amam-se, não pode ser uma resposta. Nem o facto de uma mulher ter estudado e ser moderna é uma desculpa…

Ser vítima não é uma opção! Deixar de ser vítima é que poderá ser. Contudo, só o poderá ser se a vítima souber que terá amparo no seu percurso. Imaginemos uma mulher ou um homem, cujo companheiro(a) alienou a sua família e amigos. Depois, o amor da sua vida começa a fazer ameaças ligeiras, é a roupa, o conversar com uma pessoa estranha no supermercado… Nasce um filho, a violência escala, já não são só palavras. É, no entanto, um bom pai ou uma boa mãe… (A culpa deve ser da vítima !)

Não se trabalha fora de casa para não haver problemas ou trabalha mas sem gerar ondas. A violência continua a escalar. Uma amiga percebe. O filho percebe. Alguém percebe. Tenta-se fazer algo! Sai de casa.

Continuam as ameaças. Vai-se à polícia! No meio de tantos agentes, é atendida por um Homo Misoginus que lhe diz que conhece o companheiro e que é bom rapaz. Bebe uns copos a mais mas tem desculpa! A vida, ai a vida! Volta-se para casa, perde-se a esperança.

ou então:

Continuam as ameaças. Vai-se à polícia! No meio de tantos agentes, é atendida por um agente que ativa um sistema de segurança e faz o caso avançar. No meio, apanha-se um juiz Homo misoginus que acha que a saia é verdadeiramente um escândalo e que deveria voltar para casa e usar saias mais compridas que isso passa… Volta-se para casa, perde-se a esperança.

ou então:

Continuam as ameaças. Vai-se à polícia! No meio de tantos agentes, é atendida por um agente que ativa um sistema de segurança e faz o caso avançar. No meio, apanha-se um juiz compreensivo que aplica a lei mas vem aí um membro da família, que é Homo Misoginus e pronto… Não prestas para nada! Se prestasses, o teu companheiro não faria nada disso… Volta-se para casa, perde-se a esperança.

No meio destas versões todas, há a pior versão de todas… Passa o tempo entre todos estes actores e vai o perpetrador da violência e exerce-se a violência última, que inibe todas as outras versões. E assim morre mais uma vítima de violência doméstica em Portugal!

E depois, há pessoas da lei que estão preocupadas em processar pessoas que se preocupam com a violência doméstica ao invés de procurar encerrar os criminosos que exercem esta violência, em prisões, durante o maior tempo possível.

Há uma linha ténue entre saltos geracionais. Começa com pequenas opções:

-Entre marido e mulher, pode-se meter a colher (se for para defender a vítima)

-Não é por ter mais dinheiro, mais poder ou mais força, que tem razão

– Roupa, conversar com outros ou sair com amigos não é motivo para desconfiar… Se for para desconfiar, há motivos mais fortes e válidos… mesmo assim, não é motivo para bater, só se for com a porta para sair de casa!

Vamos terminar com os #homomisoginus! Está na altura de ensinar os mais jovens (e não só) que a linha não é assim tão ténue!

Qual a vossa opinião?