Bombshell – o Escândalo (#metoo)

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Imaginem um local de trabalho com as mulheres mais inteligentes e sexy que conheçam. Agora, juntem um homem com uma personalidade forte, sem papas na língua e um apetite voraz (em todos os sentidos). Têm aqui o pressuposto para Bombshell!

Vamos começar pelo colectivo de actores escolhidos para esta bomba. Temos Charlize Theron, completamente irreconhecível, no papel principal. A equipa que tratou da sua face ganhou o prémio de Melhores Efeitos Especiais no Make-Up Artists and Hair Stylists Guild Awards. Podem ler a entrevista com Kazu Hiro, caso tenham curiosidade.

Não só houve alterações ao nível facial, como mostrou, mais uma vez, o seu calibre de atriz camaleónica… Sim, sou fã de Charlize Theron.

Nicole Kidman surge como uma espécie de parceira silenciosa, que acende o rastilho para que o filme se encaminhe para o seu verdadeiro intuito: enfrentar o assédio sexual no local de trabalho e criminalizar os culpados.

Finalmente, Margot Robbie, a jovem evangélica e ambiciosa, que, ao contrário das personagens anteriores, não é real. Representa uma amálgama de pessoas que trabalham ou trabalhavam na Fox News, e que foram entrevistadas. Robbie já recebeu dois prémios para atriz secundária, neste filme.

Finalmente, o vilão Roger Ailes, muito bem retratado por John Lithgow, a quem desconhecia esta veia dramática (por ser fã de O Terceiro Calhau a contar do Sol). Lithgow está totalmente diferente e aqueles olhos são o segredo de todo o papel. Num momento, está delico-doce e seguidamente vemos o olhar belicoso de predador e sobrevivente.

Partimos agora para o filme, em si. Começa com o foco em Megyn Kelly, o seu papel relevante como mulher na Fox News e o seu conflito com Trump, devido a uma pergunta sobre as mulheres, durante um debate para as presidenciais. Este conflito vai colocar Kelly sob pressão por parte dos republicanos e dos muitos fãs fanáticos de direita, apoiantes de Trump.

Ao longo do filme, Kelly vai narrando o que se passa nos bastidores da Fox News, especialmente depois de ultrapassada a questão com Trump e focando em Gretchen Carlson.

Carlson é despedida da Fox por Ailes e, nesse momento, decide apresentar Ailes ao mundo, como o grande predador que é. Ao fazê-lo, inicialmente sozinha, vai mostrando a cultura de assédio predominante na Fox News.

Não vou contar mais a história para não dar nenhum spoiler acidental. Convido-vos a ver o trailer e, acima de tudo, a irem ao cinema, assistir a Bombshell. Vamos conversar sobre a questão do assédio sexual, mais abaixo.

A verdade é que Bombshell é o primeiro filme #metoo. Debruça-se de forma soberba, na cultura misógena e machista, sobre o papel das mulheres no local de trabalho. No caso da Fox News, é um local de pernas e boa figura.

Ocorreu-me, ao ver o filme, como é fácil condenarmos alguém por #subir na horizontal”. Quem não quer, não deita! No entanto, depois de ver o filme, refletimos e, pelo menos para mim, não é assim tudo tão a preto e branco.

O que acontece a quem diz não? Quem tem contas para pagar? Quem tem filhos para criar? Quem sabe que, caso perca o emprego, pode perder a casa? É muito fácil ficar numa posição de subserviência e sem apoio nenhum. No filme, sente-se a falta de empatia entre as mulheres. Seria bom que a realidade em Portugal fosse diferente.

Isto aconteceu na Fox News. Não é um trabalho de ficção. Foi um problema enraízado corporativamente e que continuou através de uma política de Contratos de Confidencialidade, que protegem o agressor e não a vítima.

Não será o único e dificilmente se confina aos Estados Unidos da América. Pode bem ser que ver este filme, faça outras mulheres falar e, acima de tudo, outras mulheres protegerem outras mulheres. Tal não acontece em Bombshell! Seria bom que passasse a acontecer noutros pontos do mundo.

Quem já foi ver o filme? Estão a pensar ir ao cinema? Vale muito a pena!
Se quiserem espreitar outros bons filmes, é só irem à categoria certa.

Qual a vossa opinião?