1936, o mundo a preto e branco de Maria Schrader; uma época onde não havia margem para cinzento.
Stefan Zweig, no auge da sua carreira, judeu refugiado, enamora-se com as cores, sons, luz e beleza tropical do Brasil. Neste último reduto da humanidade, Zweig encontra no meio da multiculturalidade do Rio de Janeiro e as paisagens exóticas de Petrópolis o local onde passar os seus últimos anos longe da agitação do mundo “civilizado”, da desunião, destruição, do cheiro de pólvora, dos escombros, fumo, …
Impossibilitado de viver numa ilha e incauto à nova regência mundial, Stefan Zweig foi, até aos seus últimos pensamentos, perseguido pela falta de identificação, tanto com a nação que o viu crescer, o mundo que o enalteceu, como também com o verbo, quando palavras como civilização, amizade e compreensão se tornaram tão incompreendidas que mais valia serem retiradas dos dicionários. Quão visionário foi Zweig quando nos seus últimas palavras se despediu, impaciente, informando que queria seguir na proa deste mundo (de então e agora), escrupuloso e perverso.
Stefan questiona esta humanidade que se conseguiu unir e dedicar à guerra uma adesão “mundial” de “duas grandes”, celebrar batalhas e erguer monumentos; enquanto a paz mundial desune as nações, credos e raças, gera desconfiança e leva à construção de muros entre vizinhos. Quão escassos são os exemplos a enaltecer hoje em dia.
“Durch die langen Jahre heimatlosen Wanderns erschöpft” e inconformado, no seu leito de morte, Stefan partiu seguramente deste mundo sem saudades.
Opinião após visionamento do filme no Kino- Mostra de Cinema de Expressão Alemão 2017