Relatos de um Parto – o número Um

A Mamã É que sabe - rubrica semanal

Todas as grávidas são diferentes, o processo da gravidez é diferente mesmo para uma grávida que passe pela experiência mais do que uma vez e o parto, esse é uma surpresa, sempre…

Hoje vou falar no meu primeiro parto… Não é que o primeiro seja mais especial mas será sempre o primeiro, para o bem e para o mal.

Após uma gravidez atribulada, o nosso J. decidiu nascer. No dia em que fazia as 37 semanas, estando eu de repouso, rebentam-me as águas ao me levantar para ir à casa de banho, por volta das 16.00. Não entrei em pânico. Recordo-me que chamei o meu marido para verificar se aquilo era mesmo água… DAH!

Em seguida, ligo à minha mãe que nos vai levar ao hospital, tomo banho, preparo o saco e vamos. O hospital fica a cerca de 45 minutos de carro e eu não tenho contrações, por isso, está tudo bem. Chegando lá, vou para a parte das urgências obstétricas mas como eu estava calma, pediram-me para aguardar… Lá aguardei cerca de 40 minutos até que comecei a ter algumas contrações e o resto do líquido amniótico se espalhou pela urgência…

Aí, lá acharam que era melhor entrar… Vesti a bata e fui levada para a sala de partos onde ligaram a barriga ao doppler para ver se estava tudo bem. E estava… Já eram cerca das 20.00 e não pude jantar. Recebi um cházinho e umas bolachas e lá ficámos, eu e o papá a aguardar… No meio da confusão, só se ouviam os gritos das outras parturientes e fiquei assustada. Eram berros de dor que cortavam o silêncio da noite.

Ficámos horas sozinhos. Foram ver-nos por volta da meia noite e as contrações e a dilatação continuavam em progressão mas mínimas. Deu para dormir um bocadinho, até que às 7.00 as contracções se estavam a tornar incómodas.

Pedi ao meu marido para chamar as enfermeiras para ver se era possível darem-me algo para as dores, nomeadamente a epidural. Quando lá chegou a enfermeira, verificou que as minhas contrações ainda eram muito espaçadas e que eu estava a ser mariquinhas. Sim, que me estava a queixar sem razão nenhuma. Até que se lembrou de ir ver como estava a dilatação e perceber que já estava completamente dilatada e que a cabecinha do nosso J. já estava a ver-se.

A partir daí foi um instantinho. Chamou a equipa, montaram tudo, não me deram a epidural… Mas decidiram dar-me algo que não esperava. A episiotomia a frio! Até hoje é aquilo que mais me arrependo foi de não ter dito para não me fazerem aquilo. Há maneiras de trabalhar o músculo de modo a não ter de fazer o corte (leiam, aprendam e peçam para não vos fazerem isso).

Entretanto, a enfermeira achou giro chamar o pai para ver a cabecinha…  O meu marido não gosta de sangue e acabou por quase desmaiar, o que fez com que eu parasse de pensar no parto e pensasse nele. Esta mudança de foco não foi assim tão má e, em minutos ele já cá estava fora!

Em meia hora, o nosso J. saiu muito bem, com óptimos sinais vitais, a respirar por si e foi diretamente para o colo do pai. Aqui começou o pior momento para a mãe. Sem epidural, foi verificada que a placenta não tinha saído na totalidade e foi necessário limparem a frio com as mãos. Depois, os pontos da episiotomia e finalmente o meu filhote veio para os meus braços e colocado a mamar.
Acredito que se poderia ter evitado alguma da intervenção médica, embora tenha plena consciência que seria necessária a limpeza ao útero para evitar futuros problemas.
Todo o sofrimento desapareceu numa questão de horas e, em breve, já estava levantada a almoçar e a tomar banho. Foi um momento maravilhoso com lágrimas e suor que passado dezasseis anos continua a ser mágico.
 

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